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Uma dúvida. Dado que você é ateu, sua metafísica é a naturalista ou materialista ou fisicalista; ou seja: o fundamento da realidade são coisas físicas regidas por leis mecânicas. Disso se levantam várias questões (na realidade, um cipoal de problemas elusivos). O primeiro - e mais complexo, que nunca vi um ateu responder (e eu leio filósofos ateus sofisticados) - é em relação à contingência: suponhamos que o Universo é eterno (se é eterno ou não, tanto faz); o Universo, sendo eterno, é contingente; tudo o que é contingente não possui sua própria causa, sua própria existência de sua própria natureza; algo que não possui, ontologicamente, a causa de sua própria existência, depende de outra coisa para existir; portanto, o Universo depende de algo mais nevrálgico para existir. Clarificando esta questão com uma analogia. Isto é o mesmo que as luzes solares fossem eternas: elas, ainda assim, precisariam do Sol para causá-las continuamente, para atualizá-las continuamente na existência, uma vez que elas não têm poderes causais para mantê-las na existência; em outras palavras, são ontologicamente pobres. Disso se segue que não adianta, por exemplo, apelar para uma regressão infinita: não se explica a existência, uma vez que nenhum evento é causa de sua existência, apenas que os eventos são eternos no passado. Uma resposta que vi a esse problema foi de John Leslie Mackie - grande filósofo analítico da Religião, que eu admiro -: o que é primordial é um pedaço de matéria, e, a partir disso, podemos então explicar a evolução, o Universo e a Vida; e esta explicação é a mais parcimoniosa, uma vez que não precisamos postular a existência de um Deus. Muito bom. Excelente. Fantástico. Contudo, se levanta um problema insoluvelmente elusivo: seja um pedaço de matéria, seja uma partícula fundamental, isto ainda é contingente. Com efeito, Mackie aceita um fato bruto; contudo, é algo sumamente ilógico; visto que se é aceito uma partícula fundamental (ou qualquer outra coisa física ou estado mental) como fato bruto, essa coisa carrega consigo uma necessidade metafísica, sendo, todavia, contingente. Assim, o ateísmo se fundamenta em uma Contingência Absoluta - o que é, deveras, contraditório.

O segundo problema é da consciência intencional. Dado que o fundamento da realidade para o ateísmo são estados físicos ou mentais (pode ser um naturalismo idealista) mecânicos, sem significado, discretos, ilógicos e soltos, o que ocorre é que essa metafísica não consegue explicar o fenômeno da consciência intencional - que é totalmente contrária à sua base subveniente -: teleológica, significativa, unitária, lógica e coerente. Pior: não consegue sustentar a Razão, na medida em que a Intencionalidade é uma característica da Razão. Não adianta apelar a dualismos de propriedades, a panpsiquismos naturalistas, a naturalismo biológico, a funcionalismo, enativismo etc. porque todos sustentam a metafísica naturalista sobredita. Por conseguinte, o ateísmo precisa sustentar uma tese da mente (claro, tácita) que é um dualismo de substâncias: há o res cogitans e o res extensas; no entanto, é um mistétio como a Matéria e a Mente interagem; e, como diz David Bentley Hart, a Razão abomina o dualismo (e eu digo que abomina também o ateísmo, ou naturalismo, ou materialismo ou fisicalismo).

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