A falácia do pedestal e o falso controle de qualidade
Sobre dois erros intelectuais primos, mas opostos
Um erro intelectual dos pós-modernos é a falácia1 do pedestal: imparcialidade, neutralidade, objetividade são coisas tão preciosas que ficam lá no alto do pedestal, inalcançáveis.
Essa moda intelectual ajudou a desmoralizar o jornalismo, por isso há tantos militantes de redação escancarados hoje. Também atrapalhou a ciência, desviando fundos para projetos cujo fundo é puro moralismo e ativismo, não o avanço da curiosidade, como uma besteira chamada “glaciologia feminista”. Daí tantas teses e dissertações completamente inúteis regadas a verbas da Capes e do CNPq, principalmente na área das humanidades.
Existe outra falácia prima do pedestal, só que ao contrário: a falácia da escolha do pior exemplo possível como único exemplo ilustrativo aceitável para uma coisa negativa. Podemos chamar de falso controle de qualidade.
Segundo esse modo de pensar, o termo “ditadura” só se aplica quando há um uso generalizado de “pau de arara” e um comitê de censura prévia para as letras do Caetano. Ditadura, só na Coreia do Norte ou nos Estados falidos da África.
Ditadura não pode ser um dos três poderes expandindo a si mesmo, invadindo a competência dos outros, mantendo inquéritos de ofício intermináveis sem objeto definido, prendendo inocentes com base em fichamentos ideológicos clandestinos, se colocando como Poder Moderador imperial e tentando intimidar críticos que reagem a isso tudo sob desculpas furadas como “injúria”, “desinformação” e “discurso de ódio”.
É como alegar que só existe pandemia depois que 20 milhões morrerem, só existe genocídio se a etnia for completamente varrida do mapa (a definição internacional aceita eliminação dolosa de parte do grupo), só existe homofobia se a lésbica for assassinada, só existe racismo se o negro for demitido enquanto for explicitamente xingado por ser negro pelo patrão.
Ninguém aceita o falso controle de qualidade em questões pelas quais tem preocupação. A tendência, na verdade, é o alarme falso: estatísticas falsas de mortos por homofobia para sensibilizar autoridades, alegações de que desproporções estatísticas de raça em grupos pequenos só podem ser explicadas pelo racismo, alarmismo com a covid pela alegação de que imunidade de rebanho não existe, acusações de genocídio contra Israel ou contra a África do Sul sem indícios suficientes.
A regra é: se a pessoa se importa com um assunto, ela tenderá a exagerar.
Agora, todos os sinais que dei acima de que o Brasil não é mais um regime democrático são publicamente conhecidos (confira os links). Se estou exagerando dizendo que o termo “ditadura” já cabe (decidi que cabia durante o banimento do X), porque me importo com o assunto, isso não apaga os indícios que embasam a minha opinião. Os indícios, até onde sou capaz de vencer meus vieses e limitações, são objetivamente escandalosos.
Aqui, estou usando o termo “falácia” de forma genérica, como um erro intelectual, um argumento ruim. Não estou me comprometendo com a famosa classificação de falácias como ramo da lógica. Recomendo este texto de Matheus Silva a respeito dos exageros sobre a importância de classificação de falácias.
Qual o contexto mesmo deste texto? Acho que cai de paraquedas…