Triste fim do Chorão (1970-2013)
Lamento muito pela morte do Chorão (músico da banda Charlie Brown Jr.). Meus pêsames à família. A reclamação dele da solidão, relatada pela prima, é de cortar o coração. Sônia Abrão (a prima dele) também relatou que ele dizia que o palco era a terapia dele, e essa era a desculpa que ele dava para não procurar ajuda profissional para suas dores psicológicas. Foi um erro que pode ter custado a vida dele, a meu ver. Eu acho que na nossa cultura existe uma certa frieza na forma como lidamos com a depressão alheia, muitas vezes consideramos uma frescura que poderia ser facilmente mudada pela pessoa que passa por isso, um inconveniente facilmente tratável com algumas doses de prazer. Mas o que pode ser mudado assim não é depressão, é apenas tristeza. Quem sofre com depressão sente uma anedonia, nenhum prazer faz mais sentido muitas vezes. Alguns passam dias sem ter forças para levantar da cama. Se uma das fontes do problema é uma sensação de solidão, nenhuma multidão de fãs vai substituir o contato psicológico íntimo de amar e ser amado e construir uma vida com sentido junto a outrem. Existem profissionais que podem auxiliar na minimização dos danos: terapeutas cognitivos, terapeutas comportamentais... Não posso dizer que se o Chorão tivesse feito terapia, tudo teria sido diferente. Mas estou sugerindo que, se nós nos sentimos impelidos a ajudar se alguém é ferido fisicamente ou perde um braço ou uma perna, também deveríamos ser tão ou mais solícitos ao menor sinal de que os ferimentos são psicológicos. Dor psicológica pode, sim, ser pior que perder um braço ou uma perna, especialmente se rouba anos, às vezes décadas, de uma vida. Nós todos estamos vulneráveis a isso, acidentes acontecem, conflitos de personalidade também, e fracasso de planos também. Se um perde o equilíbrio na vida, deve ser educado a tentar voltar a si de jeitos que de fato funcionam, e os outros, mais fortes, devem estar a postos para evitar as quedas. Muitas quedas não são culpa de ninguém, este mar é mesmo tempestuoso. Só nos resta ficar atentos, enquanto temos forças para estar de pé. R. I. P. Alexandre Magno Abrão, o Chorão (9 de abril de 1970 - 6 de março de 2013).
(Publicado também no meu Facebook.)