Editor do Intercept há um ano faz chiliques contra meus textos na Gazeta do Povo
Esta treta vale a pena detalhar
Antes de começar o texto, quero informar aos leitores que estou com um podcast novo com minha amiga Ágata Cahill: o Tôblock, associado ao meu site Xibolete. Publicado em página própria no Substack, …
…está também nas plataformas Spotify, Deezer, Google Podcasts, Amazon Music, Castbox e Podcast Addict. No primeiro episódio, publicado há dois dias, Ágata e eu comentamos o jargão dos progressistas identitários. Por falar em progressista, vamos ao assunto do post.
Há um ano, fui chamado pelo meu editor na Gazeta do Povo* para transformar em matéria completa um assunto que eu estava discutindo no Twitter: a hipótese de que o novo coronavírus (SARS2) poderia ter vindo de um vazamento laboratorial na China. Eu já havia coberto o assunto antes no YouTube, em março de 2020, colocando um amigo para dublar um vídeo que eu traduzi. O resultado do convite do editor foi este texto.
Um editor sênior do Intercept Brasil, Rafael Moro Martins, não tardou a reagir ao meu texto da seguinte forma (backup):
Rafael estava, como de praxe, refletindo um consenso espúrio progressista que perdurou por todo o ano de 2020 contra a hipótese da origem laboratorial e a favor da hipótese da origem zoonótica (de morcego para outro animal e dele para humanos, sem passagem em laboratório).
Meu texto era fundamentalmente uma reescrita em linguagem mais simples do artigo publicado dias antes pelos cientistas Yuri Deigin e Rossana Segreto, que fazem parte da rede #DRASTIC de investigadores independentes das origens do SARS2. Eu pedi que o Rafael refutasse o meu texto, o que implica refutar o artigo científico que formava a principal referência a ele. Ele respondeu com links de publicações leigas como National Geographic, todos anteriores à publicação do artigo e, portanto, irrelevantes para responder a ela.
Virou o ano, veio maio, e, para resumir a questão, Deigin, Segreto, eu e a Gazeta do Povo fomos vingados. A hipótese era, sim, como eu disse no meu título, algo a ser levado a sério, e não algo a ser comparado levianamente a ideias de Terra plana. Terra plana era o dogmatismo idiota do Rafael.
A virada aconteceu primeiro com um artigo do Nicholas Wade que eu traduzi para a Gazeta, depois com uma investigação da Vanity Fair, e finalmente, no segundo semestre de 2021, para humilhação do Rafael, a própria sede americana do Intercept participou da festa, publicando documentos que reforçam a hipótese da origem laboratorial e não a zoonótica. Enquanto isso, depois de seu maior furo com a VazaJato, o Intercept Brasil coleciona gafes como a invenção do “estupro culposo”. Agora, até o FBI considera a origem laboratorial mais plausível.
Mas Rafael não se cansou depois dessa humilhação. Hoje, ele reagiu assim a uma manchete minha na Gazeta que traz a comparação do risco de problemas cardíacos associados à covid e à vacina (backup):
Percebam que, mais uma vez, a postura do Rafael é atacar com toda aparência de que não leu o conteúdo e julgou o título com reflexo patelar, não com reflexão. O “sic” indica que ele duvida que a Gazeta do Povo seja um jornal. Outras pessoas têm algo similar a dizer sobre a seriedade do Intercept após o “estupro culposo”.
No meu texto, respondo à pergunta do título. Para resumir, a covid representa mais risco ao coração que a vacina de mRNA, mas a isso eu acrescento a nuance de que antes a literatura científica falava numa diferença de ordens de magnitude entre esses dois riscos, mas os estudos mais recentes indicam uma diferenca de até seis vezes (ou seja, pode ser ainda menor que seis vezes). Diante dessa movimentação da literatura na direção de aumentar a estimativa do risco para a vacina, eu pergunto, no fim do texto, se os políticos que estão criando dispositivos autoritários para forçar essa vacina na população se responsabilizarão se der problema cardíaco para alguém. Claro que não.
Ando pensando ultimamente na noção de responsabilidade aplicada a instituições. Há quem acredite que não existe tal coisa: o cientista Bruce Charlton, por exemplo, que foi editor da antes ótima revista Medical Hypotheses, acredita que somente indivíduos são capazes de se responsabilizar, e por isso ele é crítico do método da revisão por pares (peer review) para publicações científicas — que a MH não usava.
Mas a ordenação jurídica que temos trata de responsabilidade de instituições, pessoas jurídicas. Na pandemia, foi muito relevante essa noção quando aplicada às farmacêuticas que fizeram as vacinas (Sinovac, Pfizer, AstraZeneca, Janssen e Moderna), isentadas de responsabilidade em contratos com governos ao redor do mundo. A isenção levanta uma dificuldade para o autoritarismo sanitário: faz sentido isentar fabricantes de responsabilidade e obrigar o cidadão a consumir o produto pelo qual ele sabe que ninguém se responsabilizará se der resultados ruins?
Mas eu faço questão de dizer, também, que instituições como a Pfizer são complexas. As pessoas responsáveis pelas decisões que levaram aos crimes retratados no filme O Jardineiro Fiel e estão dentro da empresa não se confundem com as mesmas responsáveis pela cadeia de decisões por trás da vacina de mRNA. Além disso, toda vez que consumimos um medicamento da Pfizer que é eficaz (e a própria vacina tem eficácia, aliás), estamos dando uma aprovação à marca e à empresa. E será justo que façamos isso até quando sair a droga Paxlovid, se tiver a eficácia toda que a Pfizer alega que ela tem contra covid.
Meu ponto é que o Intercept não é responsável por tolices ditas pelo Rafael Moro Martins, assim como a Gazeta não é responsável caso eu cometa algum erro como repórter e editor de ciência e saúde. Porém, enquanto eu já citei o Intercept em duas matérias diferentes, por reconhecer o trabalho bem feito da sede (a sucursal no Brasil talvez seja outra história…), eu apostaria que o Rafael jamais citaria qualquer coisa de um jornal conservador, por mais bem escrita e embasada que esteja. Quem é o lado intolerante? Quem é a contracultura? Quem é o “negacionista” de ciência?
*Todas as minhas publicações fora da Gazeta do Povo são de minha responsabilidade e não refletem necessariamente a opinião do jornal, obviamente.
Oi Rafael. Boa tarde.
Sei que você está lendo aqui.
Sabe o que foi mais divertido? Foi você bater o martelo, sem dúvida alguma, com ar de sabedoria, que qualquer questionamento à verdade que você tinha consolidada em sua cabeça era "terraplanismo" e tomar um drible da vaca a partir do Intercept lá de fora, enquanto sua incompetência arrogante reinava aqui.
Foi engraçado.
Demonstrou que você não é o jornalistão com jota maiúsculo que você acha que é, fodástico, mas apenas uma foca.
Para quem está aqui lendo e não entende o que é o termo "foca" do jornalismo, eu explico: a origem é aquele bicho simpático mesmo. Já viram aquelas performances com esse animal? Jogam a bola e a foca não segura. Rebate de volta. Joga de novo, e ele rebate. E segue assim.
É o que gente como o Rafael Moro faz com as notícias. Joga pra ele, rebate, como uma foca. A notícia ali, pingando, e ele joga pra longe.