Nacionalismo e política de identidade
Nacionalismos são suspeitos. Se tudo o que você compartilha com alguém é o acidente de ter nascido num mesmo estado-nação, é improvável que vocês tenham opiniões em comum suficientes para se agruparem. No máximo, vocês poderão querer que o estado-nação onde nasceram não vire uma zona de guerra, não seja ameaçado pela pobreza extrema e outros problemas fundamentais de sobrevivência. É por isso que nacionalismos ganham força com tempos de guerra ou medo de tempos de guerra.
Pelo mesmos motivos, a política identitária em geral é suspeita. Em outras palavras: se tudo o que você tem em comum com alguém é que vocês têm a mesma orientação sexual, a mesma cor de pele, o mesmo gênero, a mesma origem regional, o mesmo status quanto a deficiências físicas etc., é improvável que vocês tenham o suficiente em comum para formar um grupo político genuíno, ou seja, um grupo que tem certas ideias, certos interesses, que quer solucionar certos problemas de certas formas. O agrupamento de pessoas por identidade (por características intrínsecas) só tem chances de ficar estável diante de ameaças reais ou imaginadas à integridade das facetas relevantes de identidade em questão. É por isso que quem faz política identitária vive de catalogar, enfatizar, e às vezes exagerar ou até inventar ameaças (vindas dos 'outros', ou seja, daqueles que não estão na categoria identitária em questão).
Para agrupamentos políticos começarem a fazer algum sentido, é preciso se juntar em torno de ideias, não de acidentes de nascimento. Uma vez que se esclarece quais são as ideias em torno das quais você está se juntando a outras pessoas, a próxima questão para avaliar a racionalidade do seu comportamento político é a forma como você defende essas ideias: é dogmática ou aberta à revisão conforme novas informações são produzidas por investigações? Se baseia em reflexão, ou em motivos irracionais?