Memento Vitae
Existe uma tendência natural, detectada experimentalmente, de considerarmos bom o que é familiar. Uma pessoa que você conhece há mais tempo pode ser considerada boa gente por você, apenas porque vocês se conhecem há muito tempo. Claro, você pode argumentar que se não fosse gente boa, teria feito algo ruim em todo este tempo. Mas também temos a tendência natural de superestimar o passado, pintando-o melhor do que de fato foi. Toda memória, quando lembrada, está sujeita a ser alterada um pouco. Nossa luneta para o passado sofre de miopia com uma aberração cromática que desvia para o "tudo azul". Nossas memórias não são completamente confiáveis, principalmente as mais antigas. Viver é, portanto, estar à deriva num mar de tempo em que a memória do passado está tão borrada quanto a perspectiva do futuro. Num certo sentido, olhar para sua própria foto num evento do qual você não mais se lembra é idêntico a olhar para um animal fossilizado há milhões de anos: são dois fatos deste mundo que não pertencem à sua memória particular mais do que pertencem à História do universo que lhe cerca. Você está atento aos sons que te cercam agora? Sente a gentil carícia do ar que te cerca? É capaz de se imaginar voando pela janela para ver todas as galáxias? Aproveite! Tudo isso é seu, tudo isso é nosso, aproveitemos bem enquanto temos. Julguemo-nos mutua e caridosamente pelas ações que tomamos, pelo amor que oferecemos, aqui e agora. Não esperemos pela persistência que a memória não tem.