Homens são ótimas pessoas, na verdade
Rebatendo com alguns estudos a onda de misandria que ocupou conversas por anos
Começo antecipando a piada, ou comentário engraçadinho, de que estou defendendo os homens porque sou gay. Tratar piadas seriamente não te faz muito popular em festas, mas às vezes pode ser proveitoso, por uma simples razão: o humor às vezes é usado como escudo para não pensar.
Aprendi isso na prática, quando morava com um amigo que fazia doutorado em filosofia. Ele é aquele tipo de intelectual sem medo nenhum de ser desagradável, se ser desagradável é o caminho para a verdade. Então, quando fiz uma piadinha quando ele defendeu o vegetarianismo, ele não riu e jogou na minha cara que a função da piada era eu não ter que me engajar no argumento e ficar confortável na minha posição de não pensar a respeito. E ele tinha brutal razão. Com essa observação, parei de palhaçadinha e pensei.
Na verdade, ser gay poderia ser potencialmente preditivo de eu ter uma atitude negativa para com a maior parte dos homens, afinal, a maioria deles é heterossexual. Alguns deles, mais quando eu era mais jovem do que agora, fazem piadas homofóbicas com intenção de excluir; às vezes também com a função de não pensarem se é justo tratar mal pessoas por coisas que não escolheram ser. Gays costumam ter amizades femininas e são um grupo mais propenso a serem convencidos de que a maioria dos homens não presta.
Mas fatos são fatos, e eles mostram que a maioria dos homens são pessoas necessárias, com virtudes mais raras de se encontrar entre as mulheres, que têm virtudes diferentes.
Defender as mulheres, ao contrário do que feministas tentam fazer parecer, é o default da sociedade. Em ambos os sexos, a opinião prevalente é que as mulheres são pessoas melhores, com mais atributos positivos que os homens. Há até nome para isso: “efeito mulheres são magníficas”. Descoberto em 1994 e corroborado em pesquisa com 44 culturas, este efeito também mostra que as mulheres são mais corporativistas entre si que os homens. Ou seja, são mais propensas a defender alguém porque é membro de seu próprio sexo.
Então, a propaganda está errada: simplesmente não é verdade que a “misoginia” é um problema prevalente na sociedade. Sobre isso, leia “O mito da misoginia”, do jornalista John Tierney.
Relações amorosas são mais importantes para os homens
Para falar das virtudes masculinas, comecemos, então, pela mais surpreendente.
A preferência feminina pelo gênero da comédia romântica e os doramas faz parecer que as relações amorosas são mais importantes para elas do que para os homens.
Mas a pesquisa científica dos relacionamentos tem sugerido o contrário, como resumiram em um artigo de dezembro passado Iris Wahring e colegas, na revista Behavioral and Brain Sciences. Os cientistas resumem em quatro pontos as descobertas.
Homens têm maiores expectativas sobre iniciar um relacionamento e, por isso, lutam mais pela parceira.
Eles se beneficiam mais do relacionamento romântico em sua saúde mental e física.
Homens são menos propensos a iniciar o término da relação.
Homens sofrem mais com o fim de um relacionamento.
Os autores deixam claro que o ponto 2 vem do fato de que homens têm uma rede de apoio social menor fora da relação, dependem mais das namoradas e esposas para suas necessidades afetivas.
Os seres humanos do sexo masculino têm mais vontade de ter um relacionamento quando estão solteiros que as mulheres, se apaixonam mais rápido, são os primeiros a dizer que amam a pessoa com quem estão.
E, repetindo porque é importante, quando encontram uma relação, eles são mais resistentes que elas a iniciar um rompimento. Esses incorrigíveis românticos sofrem mais, e por mais tempo, que as mulheres quando há o rompimento.
Muito diferente da imagem de predadores frios na qual muitas feministas insistem. Mais homens que mulheres dizem que sua parceira é sua principal confidente. Coitados dos que dizem isso, mas não são vistos assim pelas próprias parceiras!
Muito disso não é bom para os homens. É um bom conselho, então, buscar diversificar sua rede de apoio, para não depender tanto, emocionalmente, da parceira.
A sabedoria estoica dos homens
O estoicismo é uma corrente filosófica do período helênico, associado a pensadores como Marco Aurélio, Epicteto e Sêneca, cuja sabedoria principal estava em propor o cultivo da resiliência emocional. Por exemplo, não se deixar afetar por aquilo que não está sob seu controle — o outro lado dessa moeda é uma postura de resolução de problemas naqueles que estão, de fato, sob seu controle.
O estoicismo é a origem última da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que hoje se mostra uma das mais eficazes na psicologia clínica.
Os homens são naturalmente mais estoicos. Uma metanálise de 2021, envolvendo 30 estudos e mais de 11 mil participantes, mostrou que os homens são mais resilientes que as mulheres, e que a diferença é muito grande. Na pesquisa em psicologia, um tamanho do efeito de 0,8 é considerado grande. Neste caso, é quase o dobro: o tamanho do efeito é 1,42.
Este número é conhecido como “d de Cohen”. O valor significa que 92,2% dos homens estão acima da média de resiliência psicológica das mulheres. Se escolhermos ao acaso um homem e uma mulher, a probabilidade de o homem apresentar maior resiliência será de 84,2%.
Há um limite a respeito do quanto você pode modificar a si mesmo para ser mais resiliente. Neste caso, é bom contar com quem é mais estoico, e a pessoa com quem você vai poder contar para resolver problemas com cabeça fria e aguentar firme o pior do que a vida pode oferecer provavelmente será um homem. Seu pai, seu parceiro, seu irmão, seu amigo. Agradeçamos a essas pessoas especiais pela força nos momentos difíceis.
Ter pai em casa faz toda a diferença
A importância da presença masculina nas famílias é incontestável. Uma revisão influente de 2008 mostrou que, entre 24 estudos de acompanhamento de famílias no longo prazo, 22 mostraram efeitos positivos da presença do pai.
Crianças que têm o papai por perto têm menos problemas de comportamento, especialmente os meninos. Mas as meninas também se beneficiam, com menores níveis de problemas emocionais.
É bom para a sociedade toda: uma metanálise de 66 estudos mostrou um efeito claro da presença paterna melhorar o desempenho escolar. E pais colocam filhos na linha, reduzindo a quantidade de criminosos.
Mas e os assassinatos? E os estupros?
Uma das mais demoníacas estratégias retóricas que já vi em feministas radicais para difamar os homens foi feita por Andrea Dworkin. Esta pensadora misândrica, que tentou banir a pornografia no Canadá, disse que “todo homem é um estuprador em potencial”.
A frase é demoníaca porque não é falsa, a rigor, mas planta a semente da desconfiança que desemboca na falsidade generalizadora e difamatória contra um sexo inteiro. A manobra retórica está em apostar na confusão entre possível e provável. “Em potencial” significa apenas isso, que é possível que um homem aleatório seja um estuprador. Mas é provável? Não.
É verdade que, como indicam os números do FBI e do Departamento de Justiça dos EUA, os homens são a maioria dos perpetradores de crimes violentos. São 80,1% dos detidos por crimes violentos, 88,7% dos presos por assassinato e 99% dos denunciados por estupro. Eles têm probabilidade sete vezes maior de cometer homicídio que as mulheres.
Mas quantos são os homens que fazem essas coisas horrendas? Muito poucos. A taxa de assassinos entre homens (nos EUA) é de 11,3 para cada 100 mil. Ou seja, a chance de você errar ao acusar um homem de ser assassino é de 99,99%.
Com o estupro não é diferente. É um crime cometido por uma fração muito pequena dos homens, com frequência reincidente. Nos dados de 2019 do FBI, estupradores são 0,0106% dos homens adultos. Então, a chance de errar ao acusar um homem aleatório é de 99,9894%.
Por que escrevi este texto
No Brasil, o efeito “mulheres são magníficas” tem assegurado que conservadores e progressistas se unam entre os legisladores para dar ainda mais tratamento especial para as mulheres. Até mesmo o governo Bolsonaro foi um grande apoiador de mais privilégios e mais tratamento especial para elas, ajudando na criminalização da suposta “violência psicológica”, por exemplo, e “violência política de gênero” (meras palavras são facilmente interpretáveis como “violência” nessas peças legais).
Os homens estão em desvantagem no Brasil especialmente no direito da família, mas o identitarismo de gênero pró-mulheres já está também deturpando a nossa democracia. Já existem cotas para mulheres no fundo partidário e um projeto de reforma do Código Eleitoral quer fixar em 20% as vagas para as eleitas. Ou seja, querem forçar os eleitores a votar em mulheres, em vez de educá-los para considerar os méritos das candidaturas femininas. Isso é antidemocrático, autoritário e destrutivo, mas a oposição a isso está muito fraca.
No campo do direito de família, recomendo o livro “Alice no País das Varas de Família” (Gráfica, 2024), de Márcio Leopoldo Maciel. Se não for contido, o identitarismo de gênero atuando neste campo vai piorar a situação da alienação parental, mostra o autor.
Não sou, nem nunca fui, um apoiador de grupos autointitulados de “direitos dos homens” ou “masculinistas”. Quero menos identitarismo, não mais.
Reconhecer as virtudes masculinas e responder a absurdos, como a Associação Psicológica Americana declarando “danosa” a “masculinidade tradicional” em 2022, é apenas uma questão de interesse pela verdade.
E quem tem interesse na verdade com frequência nada contra a corrente dos instintos e consensos sociais como do “efeito mulheres são magníficas”. Elas podem ser magníficas, a depender do indivíduo, mas essa generalização ignora as muitas virtudes masculinas que são mais raras entre elas.
Muito bom!
Algo que há muita evidências convergindo é que, de fato, diversos tipos de violência (e criminalidade) são quase que exclusivamente perpetrados por homens, no entanto os homens praticantes desta violência são muito poucos. Por exemplo, é muitíssimo mais comum que homens estuprem do que mulheres, no entanto o universo de homens estupradores é ínfimo — os poucos homens estupradores estupram muito!
Vários tipos de comportamento correlacionados à criminalidade são assim, também: uma população muito pequena de criminosos comete crimes recorrentemente (e são populações majoritariamente masculinas), ainda que a maior parte da população não seja criminosa (e tampouco a maioria dos homens o é).
Então, ao escopo da hipótese de que o fenótipo masculino é mais variado, então é sobre-representado nos extremos, faz muito sentido que os comportamentos violentos mais chocantes sejam mais frequentemente manifestados por homens aberrantes do que por mulheres aberrantes.
Homens são sempre sensacionais. Obviamente que não, exatamente como nem sempre as mulheres são magníficas, antes pelo contrário. No entanto, com relação aos homens, tenho excelentes experiências, desde o meu pai, os meus três irmãos, o meu filho, o meu marido e muitos colegas. Num ambiente de trabalho com prevalência seja de mulheres, seja de homens, para mim o relacionamento com os homens é sempre mais rico, sincero e agradável.