Eli, eu acho particularmente improvável que uma ação, por qualquer que seja, não gere ou vise algum benefício próprio. Desta forma lhe pergunto: O altruísmo é concebível?
Oi Rafael,
"altruísmo" assume certas acepções complexas demais porque tem como premissas estados psicológicos, e nada é mais complicado do que um estado psicológico - no sentido de ser inescrutável para análises reducionistas ou deterministas. Reducionismo e determinismo têm suas desvantagens, mas são 'rotinas' de explicação que mais tiveram sucesso na história da ciência.
Não podendo trabalhar com redução ou determinação, resta a nós tentar extrair sentido de coisas como altruísmo em outros termos psicológicos ou sociais (termos sociais costumam ser em seu âmago psicológicos, porque sociedades humanas emergem de mentes em conjunto, embora, como dita o mantra do holismo intelectualmente honesto, o todo é mais que a soma das partes).
Tendo em mente o dito acima, vamos à sua pergunta. O altruísmo é concebível, no sentido de que pode ser concebido na imaginação (perceba que "imaginação" é um termo psicológico). Em outras palavras, nossa mente pode imaginar alguém que "faz o bem sem olhar a quem", "sem esperar nada em troca".
Não significa que uma pessoa assim possa existir no mundo real, não apenas por ser concebível.
Mas existem pessoas que sentem uma sensação de recompensa quando ajudam alguém, creio que isso acontece com a maioria de nós.
Cabe ao futuro dizer o quanto dessa sensação de recompensa se deve a elementos redutíveis da mente, ou seja, a áreas cerebrais e circuitos neurais (causas próximas); e à origem evolutiva desses elementos (causas últimas).
Meu palpite é que há alguma variação nesses elementos, parcialmente selecionada pelas variantes culturais dos últimos milênios, que pode resultar em variações no grau de altruísmo dos indivíduos humanos, sendo altruísmo aqui definido como grau de sacrifício pessoal ao qual uma pessoa pode se submeter para beneficiar um ESTRANHO, uma pessoa não-aparentada. Essas variações podem ter uma distribuição normal, tendo pessoas muito egoístas numa cauda e pessoas genuinamente altruístas na outra cauda (a distribuição normal tem forma de sino), estas últimas se aproximando do ideal utópico de pessoa altruísta concebível. Gandhi estaria estre estas, Madre Teresa de Calcutá com certeza não.
Para testar se estou certo ou não, entretanto, é preciso ser possível que o altruísmo saia das rotinas explicativas circulares em termos psicológicos, e adentre os termos neurocientíficos e até genéticos. Eu acredito que isso vai acontecer, e na verdade já está começando a acontecer. Vide as pesquisas do Dr. Jorge Moll, que estuda a neurociência da moralidade:
http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.jsp?id=K4709769Z6
Sobre o altruísmo para com indivíduos aparentados, suas origens evolutivas são mais satisfatoriamente explicadas pela teoria da seleção de parentesco e pelo altruísmo recíproco, parcialmente explicados neste meu artigo de divulgação:
http://evolucionismo.org/profiles/blogs/casais-gays-e-formigas-a
Um abraço,