Dos dois tipos de saudade
Existem duas formas de sentir saudades. Uma delas, que vou chamar de shakespeariana (por causa de Romeu e Julieta), é a autodestrutiva, uma espécie de crise de abstinência, descrita muito bem naquela música da Sade: "sinto sua falta como os desertos sentem falta da chuva".
A outra, que deve ser mais rara, é a epicurista. Epicuro de Samos, filósofo grego, morreu provavelmente de cálculos renais. Suportou as famosas dores renais até o fim. Em uma de suas últimas cartas a um amigo, diz que suas memórias da amizade não lhe causavam dor: eram, na verdade, o que o fazia feliz de ainda estar vivo. É a saudade dos sábios: alegrar-se por ter tido a sorte de ter algo tão precioso na vida, mesmo já tendo acabado, pois nada dura para sempre, e o que resta do êxtase é sempre a memória dele, não muito acurada, não muito certeira, mas um souvenir que te ancora ao conforto de saber que você esteve lá.
Redundante dizer que tento buscar a segunda.