Acomodacionismo, o vilão oculto
Um dos problemas políticos negligenciados do Brasil se chama acomodacionismo. O Conselho Federal de Medicina acomoda a homeopatia como especialidade médica, a página do Ministério da Saúde comemora o dia da homeopatia como se fosse coisa mais eficaz que placebo, para acomodar suposta "medicina" alternativa. Por alguma razão, a prática da "urinoterapia", o ato de sorver urina na esperança de curar alguma doença, é deixada de fora das tais "alternativas", me pergunto qual é o critério.
Personalidades públicas respeitadas, na inocência da ignorância sobre o desdém da comunidade internacional de pesquisa em psicologia para com a psicanálise (freudiana, lacaniana, junguiana e demais denominações), promovem frequentemente a psicanálise e seus produtos - entre eles a "filosofia" de Slavoj Zizek e de Judith Butler, por exemplo. Afinal, por que não podemos acomodar práticas sem qualquer evidência de eficácia, ou ideias sem qualquer sinal de coerência com o resto do conhecimento ou qualquer sinal de terem passado no crivo da crítica? Ceticismo é coisa de chato. Pensamento crítico só é crítico se for acomodacionista.
Acomodemos tudo. Um deputado propôs um projeto criacionista? Vamos ouvir o que esse pessoal do "design inteligente" tem a dizer sobre isso - afinal, usam uma palavra em inglês na ideologia deles, então deve ser ciência! Uma hora, acomodando o PMDB e Kátia Abreu, teremos políticas públicas de esquerda (que supostamente seriam coisa boa para setores desfavorecidos da população, como indígenas). Uma hora, acomodando homeopatia, teremos medicina de respeito. Uma hora, acomodando charlatanismos intelectuais, teremos uma classe intelectual antenada. Continuem sonhando, Pollyannas.